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Heróis, Amores e a Eterna Juventude

Texto originalmente publicado em 2012 no site Quadrinhos em Questão.

Em 2007, a saga Um Dia a Mais decretava o fim do casamento de Peter Parker e Mary Jane. Foram 20 anos de um dos mais difíceis e adorados relacionamentos super-heroicos, decepados covardemente pelo demônio Mefisto em um acordo desleal – o qual foi celebrado pelo então editor-chefe da Marvel na época, Joe Quesada, que publicamente criticava tal união -, e que não só destruíram alguns dos melhores anos da vida de Peter, como deixou órfão uma série de fãs que cresceram sentados no apartamento do casal Parker, acompanhando seus altos e baixos, tendo desejo e esperança de que tudo sempre desse certo para ambos. Enfim, o casamento acabava e parecia muito pior que uma separação real, porque os dois ainda se amavam muito – e os leitores amavam os dois.

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Com o reboot da DC, outro icônico casal teve sua vida amorosa apagada: Lois e Clark. No caso do último filho de Krypton com a intrépida repórter, o casamento era uma indecisão das HQs que quando colocada em cheque na série As Aventuras de Lois e Clark foi resolvida, transposta para os impressos e celebrada com alegria por espectadores e leitores que viram o maior dos heróis render-se ao maior sentimento humano. Hoje, nem mesmo um “namorico” com “piscadela e beliscão” teremos a chance de ver, como já adiantado pelo editor Dan Didio.

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Muitos leitores devem lembrar de outros casamentos fracassados nos quadrinhos: Wanda e Visão, Scott e Jean, Sue Dibny e o Homem-Borracha, Xavier e… bem, uma ruma de gente. No entanto os dois citados no começo do artigo possuem um peso diferente porque foram frutos de um reboot – ou deveria ser de “deuses ex-machina”? – uma estratagema comum nos quadrinhos para resolver bagunças ou simplesmente estabelecer um novo status quo na vida dos personagens. Não havia ninguém reclamando de nada, nem dizendo que seria melhor assim que assado – ok, talvez o Quesada – enfim, não parecia haver razão aparente para essa brutal mudança.

Mas havia. Juventude.

Como mídia de massa, os quadrinhos possuem a necessidade de se adequarem a seu público-alvo (novos leitores, costumeiramente pessoas entre 12 e 18 anos de idade) – ao menos aqueles que se empenham em manter uma perpendicularidade em suas publicações, como são os comics americanos -, assim, visual e contextualmente, os heróis são “forçados” a se enquadrarem ao período de suas sociedades jovens para que a identificação ocorra e faça com que seus leitores possam ver a eles mesmos naquelas páginas, não seus parentes mais velhos, os quais comumente não leem quadrinhos ou quando o fazem é de maneira pontual e na maior parte das vezes específica, não se atendo às linhas de continuidades editoriais.

Mas até onde isso é uma verdade e justificável? Acredito que o argumento é válido – mercadologicamente falando – mas incompleto. Acreditar e insistir na juventude é algo lógico e bem-vindo, mas forçar a juventude de um cânone deveria ser investir em seu legado, não rebootar sua vida pessoal, construída durante tanto tempo lado a lado dos fãs, que veem as vitórias da vida adulta daquele personagem como esperanças a deles próprios. Provas da funcionalidade desse legado – também demonstração de respeito aos personagens originais – são o seriado Young Justice e a série em quadrinhos da Garota-Aranha, salva várias vezes pelos seus leitores, ávidos pelo “novo”. Ambos mostram a próxima geração de heróis uniformizados, inspirados e treinados pelos originais e sem destruição de casamentos ou amores.

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Uma coisa importante que todos os editores deveriam lembrar: os heróis devem ser vencedores, não somente contra seus vilões, mas também em suas vida pessoais, com aqueles que amam. Afinal, trazer vitórias tão irreais contra seres fantásticos e derrotas em setores tão comuns à vida pessoal acaba por trair um dos significados do super-heroísmo: a esperança de que, além de todas as dificuldades, tudo dará certo. Lição sempre repetida por Peter e Mary Jane e nunca esquecida por seus leitores que ainda esperam que algum dia eles voltem.

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